Crônica publicada na Veja Brasília
Apetite candango
Zélia Duncan
Cheguei a Brasília com minha família em 1971, aos 6 anos de idade — quando meu paladar começou a se desenvolver. Portanto, aprendi a comer no Planalto Central, que não tem exatamente um prato típico, mas muitas influências de vários lugares de onde vinham os forasteiros para construir o sonho da capital.

No meu tempo de adolescente, devorávamos com voracidade a pizza da Dom Bosco, na 107 Sul, com o umbigo encostado no balcão do pequenino estabelecimento, que depois ganhou filiais, cresceu e apareceu! O charme era pedir uma fatia. Saía na hora, derretendo pelo guardanapo abaixo e provocando risadas dos amigos que, sempre juntos, matavam aula. A pizzaria Dom Bosco ficava na rua em frente ao querido, salve, salve Truc’s (ou seria com “k”?). Lá, outro objeto fortíssimo de nossos desejos juvenis nos esperava sempre: o macaquito! Falo e minhas mandíbulas se enchem d’água… Tratava-se de um crepe de banana com queijo, açúcar e canela. Dava para dividir, embora não fosse o ideal para quem estava em fase de crescimento… para os lados, inclusive.

Nos últimos tempos eu andei frequentando um mexicano, El Paso Texas. Também gostei muito dos pratos ousados e bem saborosos do Zuu a.Z. d.Z. Mas minha paixão nordestina agora se expandiu também para o Centro-Oeste e se chama Mangai. Originalmente da Paraíba, com muitos pratos típicos, um sonho! Tapioca de nata com carne de sol; de sobremesa, tapioca ensopada. E mil outras opções, naquele formato de bufê do sertão. Preciso sempre passar por lá, desde que inauguraram. É delírio, gente, delírio!
Eu já não como com aquela boca imensa dos anos 70, 80, mas esses sabores todos estão na minha memória, guardados com imenso carinho e cuidado. Brasília me alimentou durante dezesseis anos, à base de temperos, amigos e canções, de que hoje eu tiro meu sustento emocional e profissional. Jamais vou perder esse apetite. Pelo contrário. Esse apetite eu cultivo com muito prazer.
Zélia Duncan é cantora e compositora
Tudo o que ZD faz, faz bem, né?
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