SÃO PAULO – No programa de "ToTatiando", Zélia Duncan avisa: "Não é show. Mas é música. Música e palavra". Ao longo da apresentação, uma dúvida pode persistir: é teatro afinal? Sim, pois há a direção precisa de Regina Braga, há a direção musical de Bia Paes Leme, há a cenografia, a luz, o figurino e, principalmente, uma atriz em ação. "Para mim, isso tudo é uma loucura. 'O ToTatiando' é teatro revestido de música", afirma.
Zélia interpreta cada música com desenvoltura peculiar. Ela confessa que flertou com o tablado quando foi aluna da famosa Casa de Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio. No entanto, esse traço de sua formação artística não é determinante, apenas um dos caminhos sem atalhos ou, ainda, a sedução causada pela palavra que canta, esse jogo de mestre proposto por Luiz Tatit.
Elegância
A cantora sai da zona de conforto. De novo. E não é qualquer voz na MPB, é aquela que se transforma em outras, que deixa verbos em aberto, a serem conjugados.
Entre a doçura e o humor, passando pela dor, sempre elegante. Assim é "ToTatiando", que rompe barreiras entre canto e fala, entre crônica e poesia. A homenagem à obra vanguardista do paulistano integra a agenda de 30 anos de carreira de Duncan, comemorados em 2011. Um ano se passou para que tudo ficasse azeitado, para que não fosse algo tão linear, para que houvesse o gosto da surpresa com o qual o público da artista se acostumou. "O Tatit é uma paixão antiga. Comecei a ouvi-lo em 1981, por influência do meu irmão".
Desafio
Em meio aos encontros que permearam o projeto veio a parceria com a atriz Regina Braga, que estreia na direção. "Vivi aquele movimento do Rumo. Fiz aulas de preparação corporal com o Ivaldo Bertazzo (coreógrafo) e a Ná Ozzetti".
Frente ao convite de Zélia, Regina titubeou – só havia dirigido peças na escola. "Essa coisa profissional me deixou meio desesperada, mas cheia de ideias. Quando ela ligou dizendo ‘to te esperando’, não tive dúvidas".
Produção chega a BH este mês
Zélia Duncan frisa que não abriria mão da direção da amiga. "Regina entra no palco comigo. Ela teve grandes sacadas, como o bloco das mulheres".
Para sair um pouco do script, Luiz Tatit não poderia assistir ao espetáculo na grande noite, no Teatro do Tuca, no final de setembro. "Fizemos um ensaio geral no Sesc Belenzinho só para ele. E a reação foi: 'Zélia, tô impressionado com a sua dicção'", imita a cantora.
Ela relata que o homenageado ainda não conseguiu pensar na dimensão de tudo isso. "Esse projeto me deu muito prazer, porque o Tatit fala de modo sofisticado e humano. Quem não mostrou uma poesia para quem não quis ler? Quem não teve uma Odete, uma Sofia na vida?", brinca.
A atmosfera criativa que envolvia grupos como Rumo, Arrigo Barnabé & os Tubarões Voadores e Itamar Assumpção e Isca de Polícia fez parte da vida da cantora de Niterói, que em 1985 foi backing-vocal do Nego Dito na terra da garoa. E fica impregnada na pele do espectador.
Capital mineira
"ToTatiando" chega a BH nos dias 19 a 21 deste mês, e vai virar DVD. Artista e produção tiveram o cuidado de selecionar um espaço capaz de causar encantamento e proximidade. "Tem que ser apresentado em teatro. E o formato e o tamanho são importantes. Nesse espetáculo somos chamados para dentro, esse é o universo do Tatit e o meu desejo de dividir essa paixão", finaliza.
Serviço
"ToTatiando" – Sexta e sábado, dias 19 e 20, às 21 horas, e domingo, dia 21, às 19 horas, no Teatro Dom Silvério/Chevrolet Hall (avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi). Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia).
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